Seu primeiro trabalho na área foi ainda em Fortaleza, com uma pequena participação numa revista humorística.

Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1928. “Passei fome”, dizia ele. Expôs bicos-de-pena aquarelados que fixavam cenas e costumes do Ceará. No jornal "O Imparcial", diagramava a página de esportes. Ao contrair icterícia, é levado ao Hospital do bairro da Gamboa, onde uma freira lhe consegue um trabalho como vigia. Para não pegar no sono, redesenhava quadros famosos da história do Brasil.

Quando o caricaturista Pacheco Queiroz, que trabalhava no "Diário Carioca", levou seus trabalhos para o então funcionário da editora "O Malho" e futuro dono da Ebal1, Adolfo Aizen, que ofereceu 10 mil réis por desenho para publicá-los nas revistas O Malho.2

Com o fim da revista "Eu Vi", que foi publicada só para suprir a falta d´ O Malho, fechado na Revolução de 30, Aizen pediu para ele fazer uma história infantil para "O Tico-Tico", revista em quadrinhos da editora e a a primeira revista em quadrinhos do Brasil, O Tico-Tico, que circulou desde 1905 até a década de 70.

Assim Luiz Sá criou seus personagens mais famosos: Reco-Reco, Bolão e Azeitona, que saíram pela primeira vez na edição de abril de 1931 d'"O Tico-Tico". Criou também o cão Totó, o ratinho Catita, Pinga Fogo, Maria Fumaça, entre outros. Fez esses personagens até 1960, quando o Tico-Tico fechou.

Luiz Sá trabalhava também como funcionário do Serviço Nacional de Educação Sanitária - um órgão governamental criado em 1941, durante o governo do presidente Getúlio Vargas - e ilustrou vários livros e folhetos sobre saúde pública e prevenção de acidentes. Seus traços retratavam os hábitos e cuidados com a saúde com leveza e humor, ajudando a tornar o tema mais atraente para todos os públicos. Hábitos saudáveis, alimentação correta, higiene, prevenção e combate a doenças eram alguns dos temas tratados pelo Serviço Nacional de Educação Sanitária, que se dedicou a criar peças de propaganda em diversos meios. Um desses recursos eram as cartilhas.

Foi pioneiro no Desenho Animado brasileiro, criando dois curtas entre 1938 e 1939: “Aventuras do Virgolino”. Fez desenhos para aberturas dos cine-jornais na década de 1940 e ilustrações para as TVs Rio e Globo, já nos anos 60. Sá também foi responsável pela criação de O Bonequinho, personagem usado na seção de crítica de cinema do Jornal O Globo3. Seu desenho é caracterizado pelo uso quase exclusivo de linhas curvas, tendo quase todos os seus personagens os rostos bastante arredondados.

 

Depois dessa época de ouro dos seus desenhos, a vida de Luiz Sá não ficou nada fácil. Durante os anos 60, aconteceu uma verdadeira invasão dos quadrinhos estrangeiros. Muitas revistas brasileiras fecharam. Nessa época, o artista retirou-se para viver afastado em São Gonçalo. “Estou muito satisfeito”, dizia. Ele contraiu tuberculose em 1974, e foi internado no Hospital Azevedo Lima, em Niterói.4

Apesar das dificuldades, continuou a trabalhar em prol da saúde, e durante sua internação, realizou cerca de 50 desenhos. Alguns retratavam o bacilo de Koch, causador da tuberculose, e outros inimigos da saúde. O desenhista se recuperou e voltou para casa após o tratamento, mas alguns anos depois, em 1979, acabou falecendo de complicações causadas pelo problema no pulmão.

 

 

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(*) desenhista, escritor, empresário cultural, presidente da SAL

 

1- Editora Brasil América, uma das maiores editoras do Brasil nas décadas de 1960 e 1970.

2- Disponível em www.invivo.fiocruz.br. Acesso em 26/01/2011.

3- VERGUEIRO, Waldomiro, et alii (org.). "Luiz Sá". In O Tico-Tico - Centenário da primeira revista de quadrinhos do Brasil. São Paulo: Opera Graphica, 2005

4- abril de 1975 no terceiro número da revista O Bicho.