Nascido na cidade do Rio de Janeiro em 12 de outubro de 1812 e ali falecido em 25 de agosto de 1872, o médico Cândido Borges Monteiro era filho do capitão de milícias José Borges Monteiro e de dona Gertrudes Maria da Conceição. Casou-se em 23 de março de 1833 com dona Joana Maria (Borges) do Nascimento (falecida em 16 de junho de 1896, no Rio de Janeiro, capital), de quem teve os filhos José, Cândido Júnior (também médico e deputado provincial do Rio de Janeiro), Carolina Augusta, José Augusto, Carlos, Luiz, Tereza Cristina e Joana. Ainda criança, fez seus estudos iniciais na escola do professor Campos e ingressou, em 1827, na Academia Médico Cirúrgica do Rio de Janeiro, formando-se em medicina em 1832 e doutorando-se em 16 de setembro de 1834.
Em 24 de abril de 1830, ainda estudante de medicina, participou da fundação da Academia Imperial de Medicina, de que veio a ser membro titular da seção de cirurgia, de 15 de outubro de 1835 até sua aposentadoria, quando se tornou membro honorário. Foi sócio do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e membro honorário da seção cirúrgica do Imperial Instituto Médico Fluminense, criado em 1867 em Niterói.
Além de haver deixado vários escritos médicos, Cândido Borges Monteiro alcançou projeção internacional ao realizar, em cinco de agosto de 1842, no hoje Hospital Central do Exército, uma cirurgia de ligadura de artéria abdominal que foi a primeira do país e a terceira do mundo. Em 1844, destacou-se no atendimento a 42 vítimas da explosão da caldeira da barca “Especuladora”, que fazia a ligação Rio-Niterói, delas cuidando no Hospital da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. Atuou também no socorro às vítimas das epidemias de febre amarela e de cólera que varreram a Corte e a Província do Rio de Janeiro, na década de 1850. Assistiu ao parto dos filhos do imperador Pedro II e foi primeiro cirurgião do Hospital Militar da Guarnição da Corte, de 1848 a 1852.
Por sua atuação médica, Cândido Borges Monteiro foi agraciado com o título de Barão de Itaúna em sete de outubro de 1867 e de Visconde com grandeza de Itaúna em 10 de julho de 1872. Foi também Conselheiro do Império, ministro de estado de Agricultura, Comércio e Obras Públicas, médico da Imperial Câmara, oficial-mor da Casa Imperial, dignitário da Ordem da Rosa e comendador da Ordem de Cristo, recebeu a grande cruz das reais ordens portuguesas de Nosso Senhor Jesus Cristo e de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, além de ser cavaleiro da Ordem Ernestina da Casa Ducal da Saxônia e da Imperial Ordem Austríaca da Coroa de Ferro. Presidiu a província de São Paulo de 16 de agosto de 1868 a 25 de abril de 1869. A convite, acompanhou o imperador Pedro II em sua viagem à Europa e ao Oriente, no princípio de 1871, e ao retornar foi nomeado, em 20 de abril daquele ano, ministro da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, cargo no qual veio a falecer no ano seguinte.
Na área política, foi vereador da corte (1849/1852) e presidiu a Câmara Municipal carioca em 1850 e 1851; deputado provincial (1850/1853); deputado geral (hoje, federal) de 1853 a 1856; e senador imperial pela província do Rio de Janeiro, eleito em oito de fevereiro de 1857 em lista tríplice submetida ao imperador, que o escolheu e nomeou em 21 de abril, havendo ocorrido sua posse em primeiro de maio seguinte. Exerceu o mandato senatorial (que era vitalício) até sua morte.
O falecimento de Cândido Borges Monteiro, aos 60 anos de idade, em 25 de agosto de 1872, foi marcado por enormes homenagens póstumas em seu sepultamento, na mesma data, no cemitério da Ordem Terceira da Penitência, no Rio, presentes todos os ministros imperiais e os representantes do imperador. Nele, um dos mais comoventes pronunciamentos foi o do médico Luiz Vicente de Simoni, secretário geral da Academia Imperial de Medicina, que levara o então jovem Cândido a dela fazer parte e não supunha que seu pupilo viesse a falecer antes dele. O doutor De Simoni nasceu no ducado de Gênova em 24 de setembro de 1792, chegou ao Brasil em 1817, formou-se pela escola de medicina da corte, foi diretor do hospital da Santa Casa de Misericórdia, professor do Colégio Pedro II e das princesas, fundou a Academia Imperial de Medicina e morreu no Rio em 11 de setembro de 1881.
E o que o médico Cândido Borges Monteiro tem a ver com São Gonçalo, se a cidade não aparece em nenhum dos necrológios dele nem em suas vastas biografias post-mortem, tanto no Império quanto na República? O que poucos sabem é que ele era proprietário de terras desmembradas da Fazenda Itaúna (hoje bairro do mesmo nome) e em razão disso, ao ser agraciado com o título de barão, o imperador Pedro II decidiu fazê-lo dando-lhe o título de origem toponímica, tirado daquela sua propriedade, conforme explicam os genealogistas. A citação geográfica permaneceu quando foi novamente titulado pelo Império, já agora como visconde com honra de grandeza.
Mas sua relação era muito mais intensa que isso: possuía ele também uma casa no arraial (isto é, proximidades da Igreja Matriz) e nela atendia pobres gratuitamente, cedendo-a para o tratamento de vítimas da epidemia de varíola que varreu a província fluminense de fevereiro a setembro de 1850, e que só em Niterói (aí incluído São Gonçalo) causou 5000 doentes e 254 mortos, conforme registrou o presidente da província Luiz Pedreira do Couto Ferraz em sua mensagem de cinco de maio de 1851 à Assembléia Legislativa Provincial. Cinco anos depois, na epidemia de cólera que já matara três homens livres e nove escravos em São Gonçalo, o vice-presidente da província, visconde de Baependi, designou os sextanistas de medicina Luiz da Silva Brandão e Joaquim Hermenegildo da França para auxiliarem o médico Cândido Borges Monteiro no socorro gratuito aos doentes, segundo ele mesmo expôs em relatório ao presidente da província Luiz Antônio Barbosa, de 26 de novembro de 1855. Brandão destacou-se na medicina e mudou-se para a Corte e França fixou-se em São Gonçalo, tornando-se importante médico local nos anos seguintes.
Na Assembléia Legislativa Provincial, Cândido Borges Monteiro atuou nas comissões técnicas de Fazenda e de Obras Públicas, nas quais os contatos mais íntimos eram com o Barão de São Gonçalo, o que valeu a ambos os elogios do vice-presidente da província João Pereira Darrigue Faro no relatório que apresentou em 25 de setembro de 1851 ao transmitir o cargo ao presidente Luiz Pedreira do Couto Ferraz, pela ajuda que deram, no Legislativo, à atuação do executivo. Menos de um ano antes do falecimento, o então Barão de Itaúna foi um dos oradores na festa realizada em Niterói, em novembro de 1871, para comemorar a autorização dada pelo presidente da província, Josino do Nascimento Silva, para a construção da estrada de ferro de Niterói a Campos, cujo trecho no território gonçalense foi fundamental ao desenvolvimento do futuro município.
E há mais ainda: na tradicional festa do Divino Espírito Santo, na Matriz gonçalense, em maio de 1852, Cândido concorreu a Imperador do Divino em 1853, mas o sorteado foi Luiz de Fonte; além disso, sua filha Carolina Augusta Borges Monteiro casou-se na matriz de São Gonçalo em 11 de novembro de 1856 com o médico Luiz (Augusto) da Silva Brandão, que, ainda acadêmico, ajudara o Visconde de Itaúna no socorro às vítimas da epidemia de cólera no ano anterior. Luiz destacou-se na medicina, o casal mudou para a corte e ele ali faleceu em seis de maio de 1883, deixando viúva e onze filhos.A família Brandão retornou a Neves e é a razão da origem da denominação do Rio Brandoa (ou Brandoas).
Tereza Cristina Borges Pereira Campos, filha de Cândido Borges, residia em Niterói e era assídua visitante da irmã Carolina Brandão e dos sobrinhos no casarão em Neves. Afilhada de dom Pedro II e da imperatriz Tereza Cristina (daí o nome que o pai lhe deu), ela faleceu em agosto de 1936, aos 99 anos de idade, e foi sepultada no cemitério de Maruí.
Um dos filhos do Visconde de Itaúna foi Luiz Borges Monteiro, que lutou na Guerra do Paraguai, foi agraciado pelo imperador com a Ordem da Rosa, no grau de cavaleiro, e exerceu o mandato de vereador distrital gonçalense de 12/02/1893 a 07/01/1895.
Pelas íntimas ligações com São Gonçalo, a comunidade mandou celebrar missa em memória do Visconde de Itaúna, na igreja matriz, em 25 de setembro de 1872, oficiada pelo cônego Galdino Xavier da Silva Malafaia, pároco de Cordeiros.
Por tudo isso, a Câmara Municipal de Niterói (a que pertencíamos), após a morte dele, deu seu nome à rua de acesso a um dos mais importantes portos marítimos gonçalenses naquela época, o do Gradim. Desde o último quartel do século XIX, a Rua Visconde de Itaúna aí está com a mesma denominação, homenageando sua memória e os serviços que ele prestou aos gonçalenses pobres, atendendo-os gratuitamente sempre que aqui estava.
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Fontes:
Almanak Laemmert para 1849, p. 182.
Almanak Laemmert para 1850, 1851, 1852 e 1853, todos p. 3.
Almanak Laemmert para 1873, p. 64.
Almanak Laemmert para 1882, p. 61.
Relatório do presidente da província Luiz Pedreira do Couto Ferraz, de 05-05-1851, p. 24.
Relatório do vice-presidente da província João Pereira Darrigue Faro, de 25-09-1851, p. 5.
Relatório do vice-presidente da província, Visconde de Baependi, de 26-11-1855, p. 5 e 6.
Dicionário Bibliográfico Brasileiro, de Augusto Vitorino Alves Sacramento Blake, Imprensa Nacional, 1893, 2º volume, Biblioteca Nacional.
Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1930), Fundação Oswaldo Cruz, capturado na internet em 12-01-2012, às 11h.
Senado Federal – Portal dos Senadores.
Câmara dos Deputados – Banco de Deputados (Bandep).
História da Medicina no Brasil, de Élvio Armando Couto, Biblioteca Nacional.
Correio Mercantil, 06-06-1852, p. 2.
A Pátria, 08-02-1857, p. 4; 03-05-1857, p. 1; 22-11-1871, p. 3; 28-08-1872, p. 2; e 27-09-1872, p. 2.
O Fluminense, 15-08-1936, p. 1.